quando se está com quem se quer também tem de haver silêncios. são mais que necessário. para ouvir, junto, para além do ruído dos dias. os famosos silêncios incómodos são apenas o maior sinal que algo vai mal. porque o silêncio, quando é bem resolvido, é sempre bom. como quando vais ali ao lado no carro e apenas me olhas, pousas a tua mão na minha perna, e te ris em silêncio. ou no escritório, quando paras um segundo o teu trabalho e me olhas no meu. e apenas te ris. ou no meio da rua de calçada, quando te deixas cair no meus braços a olhar o céu da noite, e apenas apontas para a lua - e não precisas dizer mais nada. ou quando finalmente sossegas no nosso quarto, aninhada em mim, e apenas respiras fundo. em silêncio.
e depois há o silêncio do mundo. quando ficamos a sós - sozinhos. naquelas horas em que acordamos a meio da noite e já não há ninguém acordado, nem música, nem carros na rua. aquelas horas que já são tarde para telefonar, para mandar uma mensagem, para comunicar. como ontem, quando acordei de um sonho bom. tão bom, que não quis adormecer logo. soube bem sair de casa, dar uma caminhada à volta do bairro, e continuar a viver o sonho. sentir o cheiro das arvores à noite, a brisa morna no chão, ainda molhado da chuva de há pouco. e naquele silêncio, poder continuar a ouvir-te a sorrir no sonho. e ouvir a M., bonita, aos pulos, a correr para os teus braços. andei por ali, a divagar - devagar - sobre a relva, e a continuar a ver-nos. estávamos deitados ao sol, no jardim grande. os três, embrulhados. abraçados. ficamos ali horas: ela no meio de nós, adormecida, e tu do outro lado, com aquele teu olhar de orgulho no meu. a rir. em silêncio.
Texto copiado daqui
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